Conteúdo em áudio na voz de nosso diretor comercial MSc.Rafael Tiburi Bettiol, PMP

Resumo

Essa talvez seja a maior reflexão que precisamos fazer neste momento: há ferramentas que somam sem tirar o protagonismo de quem construiu a história até aqui. Ferramentas que não enfraquecem, mas potencializam. Que não silenciam a cultura, mas a amplificam.

A pergunta, portanto, não é: “devemos ou não mudar?”, mas como mudar com coerência. Como evoluir sem romper com o que nos fez fortes. Como inovar sem se descaracterizar.

Toda empresa chega a um ponto em que precisa decidir: crescer para fora ou amadurecer para dentro. E às vezes, a resposta certa não está em escolher um caminho, mas em combiná-los com sabedoria.

Esse relato que começou como um acontecimento pontual pode ser o retrato de uma encruzilhada enfrentada por muitas organizações brasileiras. Especialmente as bem-sucedidas. Porque é justamente o sucesso que, muitas vezes, turva o julgamento. E é justamente nele que se escondem os maiores riscos — o da estagnação travestida de estabilidade, o da acomodação disfarçada de maturidade.

Contudo, há um outro risco, talvez mais perigoso: o de importar o novo sem digerir o velho. Trocar a própria identidade por uma promessa de modernidade que não dialoga com o que somos. Abrir espaço para uma inteligência que não respeita a história, nem reconhece o que já existe de valioso, e muitas vezes invisível, dentro da organização.

O que propomos aqui é uma alternativa mais sofisticada, mais orgânica, mais nossa: a ativação de uma inteligência que não vem de fora, mas emerge de dentro.

Uma inteligência que pode (e deve) usar tecnologia, IA agêntica, dados, algoritmos, automação; entretanto, que nasce do talento humano, da cultura construída, dos valores inegociáveis, da clareza estratégica, da coragem de decidir com o coração alinhado à razão.

Sim, os tempos mudaram. E vão continuar mudando.

No entanto, quem disse que precisamos enfrentar isso sozinhos?

Quando a cultura é forte, a mudança pode ser fluida.

Quando a liderança é clara, a inovação pode ser segura.

E quando a inteligência é bem integrada, ela pode ser o maior aliado do nosso futuro.

A escolha é nossa.

Que venham os novos tempos.

Com os pés firmes no chão que nos fez crescer.

E os olhos atentos ao horizonte que podemos conquistar.

O café da manhã do evento daquele dia estava sendo servido. 

Grupos diversos se reuniam aos poucos, representando cada qual seus setores. Encontros entre áreas administrativas, comerciais, financeiras ou fabris não eram incomuns na empresa. Mas naquela manhã, seria diferente. 

Representantes de todos os setores haviam sido convocados. Sem exceção. E ninguém sabia exatamente o que seria apresentado.

A expectativa, que pairava no ar há meses, agora era palpável. Não havia mais como disfarçar. 

Nos últimos meses, como em um episódio de Homens de Preto, figuras estranhas passaram a circular pelos corredores. Eram pessoas que ninguém reconhecia, conduzindo reuniões discretas e reservadas. Ao mesmo tempo, alguns superiores mudaram de comportamento. Eles tornaram-se mais fechados, como quem sabe demais, porém não pode falar. 

Então vieram os afastamentos. Gerentes e supervisores importantes foram desligados nos últimos dias, de forma súbita, sem explicações precisas. Aqueles movimentos eram impensáveis para uma empresa que sempre fora marcada pela transparência. Até então, a cultura interna era de compartilhamento constante, com um clima de confiança mútua e êxito. Afinal, comemoravam anos seguidos de metas atingidas, lucros acima da média de mercado e um PPR de causar inveja em qualquer um. 

A inquietação era visível. Entretanto, naquela manhã, enfim, todos seriam informados. O mistério seria revelado.  

O auditório encheu-se rapidamente. O clima era de apreensão, inclusive entre os próprios diretores. Na mesa principal, os sócios. O diretor financeiro iniciou os trabalhos e passou a palavra ao diretor geral, que começou com objetividade:

“Todos aqui presentes sabem que a nossa empresa conquistou espaço importante no mercado nacional. Hoje, somos uma das maiores do setor, figurando, talvez, como a companhia de melhor desempenho e lucro líquido registrado nos últimos anos, enquanto muitos amargam prejuízos. Temos um canal de distribuição consolidado nas principais capitais e cidades brasileiras. Somos saudáveis administrativamente e enxutos. O que muitos desejariam ter, já temos, principalmente, caixa.

Contabilizamos liquidez financeira capaz de, talvez, adquirir a totalidade das ações de nosso principal concorrente. Contudo, o mercado não para. E desejamos continuar crescendo, mantendo o alto desempenho que sempre norteou os nossos negócios, a partir das melhores decisões que, acreditamos, sempre tomamos.

O mercado internacional é agressivo, e muitos players estrangeiros estão de olho no Brasil. Precisamos dar um passo à frente e trazer para a organização maior Inteligência de Mercado. Consideramos que, fechados em nossas próprias ideias, corremos o risco de, no médio/longo prazos, comprometer nosso desempenho, principalmente no que tange tecnologia, design e distribuição.

Nosso canal, apesar de sua integridade e valores firmados com os clientes, necessita de maior estrutura e formação técnica. 

Dessa forma, e em nome desta Inteligência, decidimos trazer para a companhia novos sócios. Sócios que enriquecerão nossa estratégia e operação, oferecendo, como mencionei, inteligência superior.”

Um silêncio absoluto tomou conta do auditório.

O diretor fez uma breve pausa, como se medisse o impacto das palavras antes de continuar.

“Esta decisão exigiu coragem. E desprendimento. Sabemos o quanto construímos até aqui, com competência, dedicação e, principalmente, com gente. Pessoas que vestem a camisa, que conhecem cada detalhe do nosso processo, colaboradores que ajudaram a construir essa história. Por isso mesmo, tomamos todos os cuidados para escolher quem viria caminhar conosco.

E o perfil encontrado não foi o de um investidor passivo, tampouco de um fundo exclusivamente financeiro. Estamos falando de um grupo estratégico, com experiência comprovada em mercados internacionais e com presença ativa em cadeias de suprimento, inovação e posicionamento de marca. Eles não vêm apenas para observar. Vêm para operar conosco.”

A tensão, que já era grande, agora era inquietação. O que aconteceria com a estrutura atual? Quem perderia espaço? Como seria a convivência com os tais “novos sócios”?

O diretor percebeu o clima e, com naturalidade ensaiada, buscou amenizar o impacto:

“Sabemos que mudanças geram incertezas. É natural. Mas reafirmamos: esta decisão não nasce da necessidade, e sim da visão. Não estamos sendo pressionados. Estamos liderando o movimento. E é exatamente por isso que queremos que todos que estejam conosco, entendam o processo, contribuam com o olhar que só quem está dentro da operação pode ter. Mais do que nunca, vamos precisar do melhor de cada um. A mudança está só começando.”

Encerra a sua fala e o ambiente fica banhado de perplexidade. 

Afinal, por que uma empresa plena, organizada e extremamente bem sucedida traria pessoas de fora em nome de Inteligência? E mais do que isso, uma inteligência “alienígena”. 

Será que esta decisão estava sendo tomada no momento certo? Seria mesmo este o melhor momento para uma decisão tão disruptiva? Estariam todos preparados para os impactos que viriam a seguir? E mais do que isso, qual o impacto sucederia aquele momento?

Aquelas perguntas não seriam respondidas ali, naquele auditório. Os desdobramentos dessa história o tempo haveria de mostrar.

Este relato, discorrido até aqui, possivelmente teria, hoje, um rumo diferente.

É natural que empreendedores, em algum momento da jornada,  sintam-se inseguros,  vendo-se diante de dilemas profundos, especialmente quando o negócio cresce rapidamente e muito além do que um dia imaginaram. 

“Não pensávamos em chegar tão longe. E agora? Quem nos sucederá? Que decisões devemos tomar para que nossa empresa continue bem-sucedida, mesmo quando não estivermos mais aqui?”

Essas são dúvidas legítimas. E elas aparecem em qualquer tempo, em qualquer cenário.

À medida que a empresa amadurece, o fator humano passa a exigir outra postura: desapego, sucessão, preparo para o longo prazo. A necessidade de aliviar a carga. É quando o CPF volta a pesar, mesmo diante de um CNPJ bem estruturado.

Os tempos mudaram.

O mercado está volátil como nunca. Vemos organizações fortes enfrentando dificuldades inimagináveis. Será que um dia seremos nós?

A economia mundial vive uma transição profunda. O Brasil, com um Estado inchado e uma moeda instável, oferece poucos sinais de segurança no longo prazo. 

O mercado internacional, que antes inspirava, hoje ameaça. São empresas gigantes, com acesso a tecnologias e recursos que podem tornar nosso modelo vulnerável.

Grandes dilemas pairam na mente dos empreendedores: 

Vender o controle?

Entregar o capital a um estrangeiro visionário?

Ou continuar acreditando nos nossos talentos e na força da cultura que nos trouxe até aqui?

E se a inteligência já estivesse entre nós?

Há caminhos viáveis.

Nenhum fácil. Mas todos viáveis, e mais coerentes com a identidade construída.

Poderíamos, por exemplo, investir em sucessão. 

Não apenas aquela que se resolve no cartório, com a transferência societária. Mas a sucessão de ideias, de crenças, de visão. Formar líderes internos, que conhecem os códigos da casa, moldados nas batalhas do cotidiano e que já provaram seu valor ao longo dos anos. É trabalhoso? É. Mas preserva o que nos trouxe até aqui. Vale mencionar Konure Matsushita, fundador da Panasonic, líder empresarial japonês visionário que planejou sua empresa para um horizonte de longo prazo impressionante. Em 1932, ele estabeleceu um planejamento estratégico para a companhia que abrangia nada menos que 250 anos, dividido em 10 estágios de 25 anos cada um. Esse planejamento visava guiar a empresa em múltiplas fases, com o objetivo de garantir sua sustentabilidade e relevância por séculos. É claro que estamos trazendo uma visão de longo prazo rara no mundo dos negócios, mas é importante mencionar, para reafirmarmos que sim, é possível! 

(fonte https://holdings.panasonic/global/corporate/about/history/chronicle/1932.html)

Poderíamos ainda, ampliar horizontes com parceiros nacionais. Encontrar empresas que compartilham os mesmos valores e, juntas, formar um consórcio mais forte, mais preparado, mais estratégico. Sem precisar se render a lógicas e métricas de fora, que muitas vezes não compreendem os intangíveis que sustentam o sucesso de uma empresa. 

Outra via seria a profissionalização total. Um modelo de governança robusto, que separe o emocional do institucional. Que organize conselhos, comitês, indicadores, compliance e estratégias de longo prazo, mas sem perder a alma, sem terceirizar o coração da empresa.

Ou ainda, expandir para novos territórios. Transbordar para fora do país, usando a própria inteligência, distribuindo produtos nativos e cultura em mercados onde ainda não chegamos. Assumir o risco, com coragem e controle.

Podemos blindar o negócio. Criar um family office, separando o patrimônio pessoal e empresarial, estabelecendo regras claras para o futuro, garantindo estabilidade, mesmo em cenários turbulentos.

E talvez, só talvez, antes de importar uma inteligência externa, pudesse ativar a inteligência que já existe dentro da organização. Criar um núcleo de inovação, discreto e poderoso, que investigue, que erre pequeno, que teste o novo sem medo. Porque, convenhamos: quem construiu tudo o que há até aqui, não foi nenhum salvador estrangeiro.

A IA agêntica nasce de dentro.

Com maturidade e decisão, independente da decisão tomada, a IA pode entrar na operação rapidamente. Não como solução mágica, mas como instrumento. Ferramenta. Extensão das competências da organização.

Porque se a inteligência humana construiu o que temos hoje, talvez a inteligência artificial, bem conduzida, bem moldada, bem integrada, possa ser o passo seguinte.

Mas não estamos falando de uma IA que substitui. Estamos falando de uma IA que compõe. Que coopera. Que amplia.

Não se trata mais de delegar tarefas repetitivas a um assistente digital, mas de ativar um ecossistema de agentes inteligentes, como a IA agêntica, que:

  1. definem suas próprias sub-metas a partir de objetivos estratégicos maiores;
  2. usam APIs, ferramentas e navegadores em tempo real, com autonomia tática;
  3. operam em times digitais com funções distintas: planejadores, críticos, executores, sintetizadores.

IA agêntica não é um robô. É uma rede viva de colaboração digital.

Ela pode trabalhar junto aos times humanos — e, mais importante, respeitando os valores, os métodos e a identidade da empresa.
Acelera o aprendizado, testando ideias, propondo soluções, antecipando cenários, sem nunca tomar o lugar da cultura, da intuição, do talento interno.

Uma IA que não vem de fora, nativa, que se incorpora à cultura, a partir daquilo que já somos. Daquilo que sabemos. Daquilo que queremos construir.

Uma ferramenta que agrega, potencializando os talentos locais.

Uma extensão da inteligência humana como uma forma de escalar o que há de melhor em matéria humana, sem abrir mão daquilo que nos faz únicos.

Não com a proposta de ser um salvador. Mas uma alavanca, que potencializa os recursos internos, com velocidade e habilidades genuínas.

Porque se a inteligência humana nos trouxe até aqui, talvez seja a inteligência artificial — ética, bem conduzida, enraizada na cultura — que nos leve ainda mais longe.

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O que é a Agentic IA (ou na terminologia em português IA agêntica) ?

A nova geração de inteligências artificiais com autonomia, aprendizado contínuo e poder de decisão estratégica.

A Agentic IA é uma rede de agentes artificiais inteligentes que trabalham de forma autônoma e colaborativa, compondo — e não substituindo — o trabalho humano. Ela entende metas estratégicas, toma decisões táticas em tempo real, opera com ferramentas e navegadores, e se organiza em times digitais com funções distintas (como planejadores, críticos, executores e sintetizadores). Ao invés de impor soluções externas, a Agentic IA parte da identidade da empresa, respeita sua cultura e amplia sua inteligência interna. Trata-se de uma ferramenta poderosa para acelerar o aprendizado, testar ideias, antecipar cenários e escalar o que a organização tem de melhor, sem abrir mão da alma do negócio.

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Fontes: 

Metodologia proprietária Otimiza Consultoria; 

Vivência nas organizações; 

Literatura de gestão empresarial diversas.

https://holdings.panasonic/global/

“O(s) nome(s) mencionado(s) é (são) fictício(s), utilizado(s) com o propósito de preservar a identidade do(s) envolvido(s) e suas organizações.