Ricardo Stuckert/PR

Calamidades, sejam elas naturais ou provocadas pelo homem, proporcionam lições valiosas sobre gestão. As respostas humanas às crises nos ensinaram muito sobre resiliência, adaptação e inovação, mas não apenas isto. Nações transformaram adversidades em oportunidades. Crises em criatividade. Destruição e desconstrução em renovação e reconstrução. Pobreza e caos em riqueza e prosperidade.

Não defendemos a ideia de que o progresso depende unicamente do caos, todavia a observação de fatos históricos permite-nos associar grandes feitos humanos a partir dessas calamidades. Zonas de conforto são zonas tóxicas e, muitas vezes, somos arrastados para fora delas. Um caminho doloroso, que devemos evitar, na medida do possível. Mas elas podem chegar e realmente chegam quando menos esperamos. Daí a importância de nos mantermos alertas e conscientes, preparados para as adversidades, como as que o Rio Grande do Sul está enfrentando após as chuvas que assolaram o estado no início deste mês de maio de 2024. Outro caso recente foi a pandemia da covid-19, alarmada em março de 2020.

São inúmeros os exemplos históricos de como empresas e sociedade responderam a essas crises. 

Japão: resiliência e inovação no pós-guerra

O Japão foi devastado na Segunda Guerra Mundial, enfrentando enormes dificuldades econômicas, sociais e industriais. Técnicas como o Kaizen, o Shoshin e outras similares surgiram principalmente devido à necessidade de reconstrução e à melhoria contínua no pós-guerra. A adoção dessas filosofias e metodologias ajudou o Japão a revitalizar a sua economia e a se estabelecer como uma potência industrial. Veja algumas dessas técnicas e suas origens:

Kaizen: “Kaizen” é uma palavra japonesa que significa “melhoria contínua”. Essa técnica tornou-se central na indústria japonesa, encorajando gestores e trabalhadores da linha de frente a operar coletivamente com o objetivo de eliminar desperdícios, melhorar a eficiência e promover uma cultura de melhoria contínua. O conceito foi popularizado mundialmente após ser implementado com sucesso por empresas como a Toyota.

Shoshin: “Shoshin” significa “mente de principiante” e é um conceito do Zen Budismo que instiga a curiosidade em uma mentalidade aberta sem preconceitos. Trata-se da ideia de abordar qualquer situação ou problema com a curiosidade e a abertura de um iniciante, mesmo sendo um expert na área. A filosofia permite a inovação contínua e a aprendizagem, evitando a complacência e promovendo novas perspectivas em processos já estabelecidos.

Lean Manufacturing: a Manufatura Enxuta é uma metodologia de gestão que visa aumentar a eficiência e reduzir o desperdício na produção. A origem do “Lean Manufacturing” está associada ao Sistema Toyota de Produção, desenvolvido durante as décadas de 1940 e 1950, criado para competir com a indústria automobilística ocidental. Seus princípios fundamentais estão concentrados na eliminação de desperdícios, no “Just-In-Time” (produção baseada na real necessidade do cliente) e na melhoria contínua. 

São inúmeras as metodologias criadas no Japão e disseminadas pelo mundo. Além das citadas anteriormente, temos o “Ikigai”, que significa a “razão de ser”, que ajuda as pessoas a encontrar seu propósito de vida. O 5´S foi criado para manter a eficiência e a organização no trabalho. Ainda o “Kintsugi”, que enxerga os contratempos como oportunidades de crescimento e transformação. Cada uma dessas filosofias transcendem suas raízes culturais e geográficas, sendo até hoje praticadas e disseminadas em diversos países, oferecendo insights valiosos para o aperfeiçoamento pessoal, desenvolvimento profissional e manutenção da qualidade.

Alemanha: reconstrução e eficiência

A Alemanha é um outro exemplo de reconstrução e eficiência. O país nos oferece lições valiosas sobre como transformar adversidades em oportunidades de crescimento e inovação. A recuperação econômica da Alemanha após a guerra, conhecida como “Wirtschaftswunder”, ou literalmente “Milagre Econômico”, foi impulsionada por políticas de gestão eficazes, inovação tecnológica e uma forte ética no trabalho. Uma cultura que impulsionou, mais recentemente, a implementação da Indústria 4.0, que integra tecnologias avançadas na fabricação e na gestão industrial. 

A adoção destas práticas em seus países, estabelecidas e moldadas originalmente por suas culturas, tornaram, sem dúvida alguma, o nosso mundo em um lugar melhor para se viver. Logicamente temos muito mais a evoluir, principalmente nas questões sociais, construindo um mundo mais equilibrado e justo, onde ninguém passa fome. Também nas questões ambientais, onde a preservação do meio ambiente seja uma prioridade. 

Em edições anteriores, já havíamos narrado em artigos correspondentes ao tema acima, a gestão de crises e o papel do líder durante esses períodos críticos. Se for de seu interesse leitura continuada, deixamos aqui os links dos seguintes conteúdos:

 Os 7 principais pensadores da gestão empresarial e da administração científica dos últimos 20 anos (eleitos pela Otimiza)

ECN – Encarando o Cisne Negro

Em completa dependência do inesperado: o papel do líder gestor durante uma crise

O que a sua empresa pode fazer (e aprender) na crise gerada pelo Coronavirus(COVID-19)?

Por que não ter uma empresa robusta

Boa leitura!

Fontes: Metodologia proprietária Otimiza Consultoria; Vivência nas organizações; Literatura de gestão empresarial diversas