Dedos no teclado, olhos fixos na tela do computador. O contato visual e empático com o entrevistado, inexprimível.

  • Seu nome?
  • Sua experiência anterior?
  • Idade?
  • Escolaridade?

Aquele era o quinto entrevistado naquela manhã. Haviam ainda 8 candidatos aguardando na sala de espera, para compor aquela simples vaga de operador multifuncional.

A rotina diária era assim: entrevistas, candidatos, demissões, contratações, ajustes, feedbacks, orientações, políticas, etc. Uma rotina desgastante, geradora de alta rotatividade e baixo comprometimento. Uma realidade fatigante onde as pessoas eram o principal “problema” daquela organização.

A observação da atual conjuntura dos RH´s em muitas organizações, remonta a trajetória da administração nos últimos 120 anos. Frederick Taylor (1856/1915), foi um engenheiro mecânico que, objetivando gerar maior eficiência e eficácia operacional, deu início a história da administração científica. Sua contribuição primordial foi fundamental mesmo que, há época, estivesse deslumbrado com os recursos disponíveis da produção em série, através das máquinas a vapor, em meio a Revolução Industrial. Seus métodos ofereciam instruções sistemáticas aos trabalhadores, acreditando na possibilidade de fazê-los trabalhar mais, com maior qualidade e no menor tempo possível.  Sua visão parecia confundir homens e máquinas. Mais tarde viu-se a necessidade da humanização do trabalho, onde as pessoas não são o “problema”, mas a solução em qualquer estágio dentro das organizações.

Não temos mais máquinas a vapor em funcionamento, sequer as pessoas são consideradas “equipamentos”, porém, ousamos arriscar que o encantamento atual recai para a inteligência artificial e a digitalização dos processos. Evidentemente que a tecnologia é fundamental, porém não podemos repetir Taylor, imaginando que seres humanos podem ser ligados ou desligados da tomada, ou ainda “robotizados” dentro do processo. Afinal, a tecnologia só avançou, porque o homem evoluiu, transformou-se. E caminha para um novo salto evolutivo. 

Antes braços, pernas e corpo. Hoje mentes, coração e espírito. Tão ou mais importante do que o conhecimento, a necessidade de acessar a mente e o coração, proporcionado e compartilhando “visão” para que o indivíduo torne-se corresponsável pelo processo como um todo. Outros valores acabam de chegar ao palco da Gestão de Pessoas.

Aprender com o passado é sabedoria. Observar o presente e projetar o futuro de forma sustentável é estratégico. David Ulrich, traz em seu livro Sustentabilidade da Liderança, conceitos transformadores. O autor propõe a transformação do RH, onde as principais atividades são as de demitir e admitir, para o DHO, acrônimo de Desenvolvimento Humano nas Organizações, que busca não apenas demitir e contratar, mas acima de tudo desenvolver, treinar, acolher, dirigir e capacitar, com os cuidados necessários a fim de capacitar pessoas. 

De acordo com o autor David Ulrich, a transformação da Gestão de Recursos Humanos (RH) em Desenvolvimento de Liderança e Organização (DHO) pode trazer diversos benefícios para as organizações, tais como:

  1. Foco central nas pessoas: ao transformar a gestão de RH em DHO, as organizações passam a colocar as pessoas como o foco central do seu trabalho, o que pode resultar em maior engajamento e comprometimento dos colaboradores.
  2. Melhoria da eficiência e eficácia operacional: com uma gestão de DHO, as organizações passam a desenvolver líderes eficazes e a criar uma cultura organizacional saudável, o que pode melhorar a eficiência e eficácia operacional.
  3. Maior sustentabilidade: a transformação para uma gestão de DHO pode ajudar as organizações a serem mais sustentáveis, ao desenvolver líderes eficazes e a criar uma cultura organizacional saudável.
  4. Maior capacidade de adaptação: uma gestão de DHO pode ajudar as organizações a serem mais flexíveis e adaptáveis.
  5. Cultura da inovação: a transformação para uma gestão de DHO pode ajudar as organizações a serem mais inovadoras, justamente pelo fato de desenvolver líderes eficazes e times mais engajados.

Pessoas alinhadas ao propósito da organização tornam-se empoderadas, e, como consequência, ganhos e postura individual se fortalecem. É neste ponto que firma-se a certeza de que são as pessoas a solução para as organizações. Isso tudo sendo apoiado pela digitalização e inteligência artificial, sem estabelecer um novo foco que nos desvie do patrimônio humano que todos devemos louvar.

Fonte: A sustentabilidade da liderança; Ulrich, David.