A escola de Administração de Empresas ensina dois conceitos importantes atribuídos aos seres humanos: o desbravador e o colonialista. Desbravador é aquele que explora, desbrava. Trata-se do pioneiro. É o indivíduo que parte em busca do desconhecido. Avança rumo às terras novas, aos novos mares, aos novos territórios. E também às novas ideias. É destemido e parte sempre rumo às descobertas, mesmo que em sua trajetória tenha que enfrentar “dor”. Daí a etimologia da palavra que, enquanto adjetivo, difere-se do verbo, unificando “dor” em sua construção: desbravar+dor. O inóspito e selvagem parece ser o seu habitat. O desbravador ousa com bravura em busca de paz. Sim, por mais paradoxal que pareça ser, é em busca da paz que ele atravessa as fronteiras do conhecido, mesmo com as dores do caminho. 

Já o colonialista é aquele que chega depois. Aproveita os caminhos abertos, segue trilhas. Está sempre em busca de sinais, sejam de fumaça, ou de locais mais seguros e adequados para construir suas cercanias e abrigos, onde poderá fixar-se, explorando o território da melhor forma possível. Diferentemente do desbravador, chega depois. Não há demérito nesta característica de personalidade. 

São diferenças que podemos atribuir como necessárias, ou complementares, haja vista a importância das duas tarefas: abrir caminho e em seguida aperfeiçoá-lo, para si ou para aqueles que vêm depois.

A espécie humana é realmente surpreendente. Não foi nenhum tipo de inteligência artificial que escreveu o texto acima, mas poderia ter sido. Não necessariamente com as mesmas palavras ou com a mesma reflexão. Contudo, as máquinas e os algoritmos criados pelo homem já são capazes de emular opiniões e críticas a respeito de diferentes temáticas. Do mesmo modo, começam a surgir pinturas, retratos, músicas, veículos e robôs conduzidos de modo autônomo. Estamos todos experimentando novos desafios, tendo o artificial como interação em todas as frentes, tais como a astronomia, a medicina, o transporte e, também, nas empresas e mercados.

Apenas a título de comparação, as tartarugas pertencem a uma das espécies mais antigas dentre os seres vivos, que compartilham a linha do tempo conosco, na atualidade. De acordo com os primeiros registros, os animais são datados de aproximadamente 150 milhões de anos atrás. Já os fósseis humanos têm cerca de “apenas” 300 mil anos. A evolução do “Homo sapiens” é um enigma para a comunidade científica. Ao contrário do que muitos pensam, o homem não é originário do macaco. Sabe-se que a espécie humana descende de uma família de primatas chamada Hominidae. O presente artigo não pretende posicionar-se como um compêndio a respeito da evolução de nossa espécie, sequer olhar para trás, no sentido de compreender o ponto a que chegamos. Apenas, de forma despretensiosa, discorrer a respeito dos avanços, ou saltos, evolutivos que somos impelidos a fazer continuamente. E, claro, o quanto isso impacta em nossas vidas e em nossos papéis enquanto gestores e executivos nas corporações que estamos envolvidos. Aprendemos a dominar o fogo e agora, mais recentemente, estamos sendo desafiados a interagir com uma inteligência nova: a inteligência artificial. E assim, buscando desbravar o futuro, nos deparamos com desafios novos. E com eles, consequentemente, somos impelidos novamente. Continuamente.

O empreendedorismo perfura as camadas do conhecido e segue avançando aceleradamente. Há algumas personalidades conhecidas na história recente do mundo corporativo que nos trouxeram, a passos largos, ao atual estágio evolutivo. Algumas delas avançaram tanto e em tão pouco tempo, que, se há algumas décadas relacionássemos os seus feitos, seria praticamente inconcebível acreditar. Podemos elencar, como uma dessas personalidades visionárias, Steve Jobs. 

Jobs, através de seu empenho e visão, literalmente mudou o mundo, trazendo para a realidade tecnologias avançadas e, como dito acima, inimagináveis aos nossos antecessores. Jobs sonhou alto e atribuiu a visão como sendo o grande catalisador de seu empreendedorismo. Dizia que “Visão é tudo”: “um sonho ousado atrai pessoas que o sigam, e nenhuma marca pode ser construída sem uma equipe de pessoas dedicadas que partilham essa visão. A paixão serve como combustível ao foguete; a visão direciona esse foguete para o seu destino” (Steve Jobs). E, dessa forma, como se estivesse a bordo de um foguete em alta velocidade, realizou grandes feitos à frente da Apple, mudando as nossas vidas. Se hoje podemos trabalhar em home office, utilizando um computador pessoal e, ainda, ouvir música ou fotografar, utilizando um aparelho de celular, além de outras invenções, é a ele que devemos tais avanços. Seu empreendedorismo visionário beneficiou a humanidade como um todo.

Logotipo da Apple na fachada da Apple Store em Hong Kong à noite – novembro de 2019

Afastado da Apple, justamente pela falta de unidade de pensamento e visão, quando sua equipe entendia que a empresa necessitava de um executivo tradicional, foi convidado a se afastar dela, sabendo que ele mesmo a havia fundado. Desiludido, saiu da Apple, criou a NeXT e investiu pesado na Pixar. Em ambas empresas, novamente empreendeu à frente de atividades de ruptura.

Ao retornar, para salvar a Apple, 1997, não tinha nenhum novo produto para lançar, mesmo assim tratou de motivar novamente a sua equipe. Explorando novas ideias, criou um filme, não exatamente voltado para os consumidores, mas para os seus funcionários. Jobs atribuiu aos “loucos” as principais crenças e valores da Apple. De forma absolutamente original, narrava:

Steve jobs

Essa mensagem é para os loucos. Os estranhos. Os rebeldes. Os que causam problemas. Os que não se enquadram. Os que veem as coisas de forma diferente. Eles não são adoradores das regras e não respeitam o status quo. Você pode mencioná-los, discordar deles, admirá-los ou torná-los vilões. A única coisa que não pode fazer é ignorá-los, porque eles transformam as coisas. Eles levam a raça humana adiante. Enquanto alguns os veem como loucos, nós enxergamos neles genialidade. Porque as pessoas que são doidas o bastante para pensar que podem mudar o mundo são aquelas que o fazem.”
(Gallo, 2013, p. 64 ).

Para ilustrar sua ideia, utilizou imagens de Albert Einstein, Bob Dylan, Martin Luther King Jr., John Lennon, Mohandas Karamchand Gandhi, Winston Churchill, Pablo Picasso, Charles Chaplin, dentre outros. Escolheu personalidades que revolucionaram o seu tempo, dentro de suas atividades. O filme, Think Different, mais que representar sua empresa, como entidade jurídica, representou a si mesmo, como personalidade revolucionária, com a coragem de, literalmente, pensar diferente, fora dos padrões repetitivos de sua geração.

São inúmeros os personagens da história que revolucionaram o próprio tempo, dentro do mundo empresarial ou fora dele. Não podemos deixar de citar, Henry Ford, Graham Bell, Paul Reuter, Santos Dumont, Soichiro Honda, Kiichiro Toyoda, Gerard Philips, Walter Elias Disney e inúmeros outros. Tivemos do mesmo modo precursores também na engenharia, na ciência, na astronomia, na química, na física, na arte, na música e na medicina. Nesta última, Louis Pasteur, Alexander Fleming, Florence Nightingale, dentre outros, todos foram notáveis pesquisadores que, por meio de suas descobertas e contribuições, permitiram o prolongamento da expectativa de vida, dos 33 anos, no século IX, para os 72,2 anos no Brasil, segundo dados do IBGE.

É notória a força empreendedora dos seres humanos. E deve haver um elemento catalisador que justifique a busca incessante em evoluir, transformar, descobrir e superar a si mesmo. E é provável que tais feitos somente são possíveis graças à mente humana. Sadhguru, místico e visionário indiano, afirma que a transformação e a liderança não podem ser separadas. Diz ele que, “se alguém tem que se tornar um líder, ele necessita se transformar continuamente. O que se espera de um líder é que ele seja capaz de ver coisas que outras pessoas não são capazes de ver. Ele não necessita saber de tudo. Ele não necessita ser um super-humano. Mas necessita ver as coisas que outras pessoas estão perdendo. Além disso, ser capaz de juntar pessoas para um determinado propósito comum. Isso os torna líderes”.

Em nossas vivências no coração de determinadas empresas e na intimidade de líderes empresariais que convivemos, sabemos reconhecer e distinguir tais propriedades evolutivas. E, em nossa opinião, a força catalisadora do empreendedorismo é a capacidade humana de ver além dos olhos físicos. O poder de observar os cenários e prever, com sabedoria, os destinos, acreditando em nossas próprias ideias e iniciativas. Sim, convivemos com uma inteligência artificial, criada por nós mesmos. Evolutivamente, somos muito diferentes das tartarugas, que se estabilizaram geneticamente há muito tempo. Já pisamos na lua. Também já criamos barbáries com as guerras e com as armas atômicas.

Cremos que é com este espírito que desenhamos o futuro de forma promissora. Diante de tão profundas mudanças, continuamos acreditando no ser humano e em sua incrível capacidade de transformação positiva. Seja você um desbravador ou um colonialista. O importante é a sua obra de vida!

Cremos que o elemento catalisador do empreendedorismo humano não está presente em nosso organismo biológico, mas em camadas mais profundas e sutis de nosso ser. A força de uma ideia, canalizada na construção de uma obra visionária, é dom humano e que devemos honrar. 

Continuar a ousar para atingir a paz.

Esta é a nossa visão de futuro, diante da humanidade!

Fontes:
GALLO, Carmine. A experiência Apple: segredos para formar clientes incrivelmente fiéis. SÃO PAULO; Leya, 2013.