Quando escrevi o texto anterior intitulado “Essencialismo na Escassez, agora mais do que nunca!” ainda estávamos no início da pandemia no Brasil e, inspirado em contribuir com algumas palavras e um pouco de conhecimento, pretendia de algum modo orientar aos leitores de uma forma simples como encarar a escassez com o pensamento essencialista. Na época a grande preocupação era a baixa de atividade e os constantes desafios em tratar as obrigações financeiras mediante a baixa liquidez.

Então caros leitores, passada a primeira onda da pandemia, os negócios que se sustentaram enfrentam agora uma nova onda de escassez e, além dos desafios já enfrentados, há grande preocupação com a falta de matéria-prima e produtos para atender a demanda reprimida do mercado.

Durante a primeira onda, enquanto o setor primário da cadeia de suprimentos diminuía o nível de atividade, os demais setores consumiam os seus elevados níveis de estoques para conter os impactos em seus fluxos de caixa. Hoje, este descompasso no fluxo de materiais, tem deixado, principalmente, as pequenas empresas com novas preocupações. Isso está ocasionando uma corrida desesperada para elevar novamente os níveis de estoque na tentativa de evitar perda de vendas no curto prazo decorrente de indisponibilidades, além da consequente insatisfação de seus clientes em relação ao aumento de preços e maiores prazos de entrega.

Novamente, gostaria de provocar algumas reflexões e apresentar dicas, associando algumas opiniões e conceitos extraídos de dois livros, “Essencialismo: a disciplinada busca por menos” e “Escassez: uma nova forma de pensar a falta de recursos na vida das pessoas e nas organizações”, dos autores, Greg McKeown; e Sendhil Mullainathan e Eldar Shafir, respectivamente.

Busque se concentrar nas restrições ou nos obstáculos que devem ser removidos, ao invés de se concentrar no esforço e nos recursos que é preciso repor. Pense no problema mais relevante que está tentando solucionar. Então, pergunte-se:

  • Que riscos eu corro perante este problema?
  • Qual é o pior cenário?
  • Quais seriam os seus efeitos?
  • Qual seria o impacto financeiro? e
  • Quais as possíveis soluções para reduzir os riscos ou até aumentar os ganhos?

Procure explorar as alternativas. Procure proteger a capacidade de priorizar. De acordo com McKeown, existe um processo simples e sistemático para aplicar critérios seletivos às oportunidades que surgirem no seu caminho.

  1. Em primeiro lugar, descreva a oportunidade.
  2. Em seguida, faça uma lista de três “critérios mínimos” que as opções devem atender para serem consideradas.
  3. Depois, faça uma lista de três “critérios rígidos” ou ideais.

Por definição, se a oportunidade não passar no primeiro conjunto de critérios a resposta é, obviamente, não. E se também não passar por dois dos três critérios rígidos, a resposta continuará sendo não. Utilize ainda a Regra dos 90%, aplicável a praticamente todos os dilemas ou decisões.

  • Na hora de avaliar, pense no critério mais importante da escolha e, simplesmente, dê a cada opção uma nota de 0 a 100.
  • Se a nota for menor que 90, mude-a automaticamente para 0 e rejeite a opção. Dessa maneira você evita se enredar na indecisão ou, pior, nas notas 60 ou 70.

Dar valores numéricos simples às opções nos obriga a tomar decisões de forma consciente, lógica e racional em vez de impulsiva ou emocionalmente. Tornar os critérios seletivos e explícitos nos proporciona uma ferramenta sistemática para discernir. O essencialista avalia mais para fazer menos.

E não se esqueça de encontrar a sua essência ou a essência do seu negócio, para escolher, discernir e “perder para ganhar” (para ganhar é preciso perder). Não há dúvidas que o trabalho árduo é importante, porém resultado não está necessariamente relacionado a mais esforço, e sim, a escolhas corretas.

Artigo escrito pelo consultor Edson Fernando Graiczyk.

Fontes:

Mckeown, Greg. Essencialismo: a disciplinada busca por menos. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.

Mullainathan, Sendhil; Shafir, Eldar. Escassez: uma nova forma de pensar a falta de recursos na vida das pessoas e nas organizações. 1. ed. – Rio de Janeiro: Best Business, 2016.