De uma hora para outra temos a necessidade de nos reinventarmos para podermos viver (quem sabe sobreviver?).

Em tempos de isolamento, passamos a dar valor para coisas que outrora dávamos pouco valor ou, muitas vezes, sequer tomávamos conhecimento. Não se trata apenas de como resolvermos questões profissionais. Trata-se de como resolvermos a questão essencial da vida em sociedade: a convivência e troca de experiências.

Um vírus que nos suprime o calor de um abraço e o carinho de um beijo deixa claro o recado em seu cartão de visitas!

Podemos e vamos passar por mais esta. Basta acreditar, reinventar-se e continuar andando. No final, em meio a efusivos abraços, veremos que todos saímos fortalecidos.

DE REPENTE, ISOLADOS

Seja cantarolando Jota Quest ou parafraseando Martha Medeiros, todos temos a convicção de que “o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”. Eis aqui o primeiro desafio que precisamos enfrentar nesta nossa nova realidade que estamos vivendo: o tempo verbal. De uma hora para outra passamos do “é dentro de um abraço” para “foi dentro de um abraço”.

Um vírus que nos suprime o calor de um abraço e o carinho de um beijo deixa claro o recado em seu cartão de visitas!

Como é, como será, viver em um cenário nunca vivido por nenhum ser humano em tamanha abrangência e tempo? Embora tenhamos a noção da abrangência geográfica – afinal, infelizmente, este é um colapso mundial – não temos nenhuma resposta concreta em relação ao tempo: por que período ainda permaneceremos reclusos?

Uma coisa é termos a possibilidade de executar o trabalho remoto (home office) em alguns períodos da semana de acordo com nossa adequação.

Algo muito diferente é nos encontrarmos – todos ao mesmo tempo – nesta condição em uma modalidade obrigatória e em todos os dias da semana.

Na Otimiza, por mais que alguns de nós estivéssemos acostumados e tivéssemos nos educado ao longo dos últimos anos para atuar na modalidade home office, foi necessária esta catástrofe mundial para que nos déssemos conta de que, como outras tantas organizações, não estávamos plenamente preparados para experimentar este cenário de forma coercitiva e imediata.Isolados, mas unidos

Mais do que repensar a ferramenta padrão a ser utilizada para executar uma conference call que comporte toda a equipe, a necessidade de sincronização das agendas dos diversos profissionais da equipe (que continuam atendendo e dando suporte remoto aos processos decisórios de muitas empresas) entrou na lista dos desafios a serem vencidos nesta nova realidade.

De uma hora para outra todos tomamos consciência de que temos a necessidade de nos reinventar para podermos viver e, quem sabe, sobreviver, em um mundo que nos impõe o isolamento.

Em um post anterior, elaborado por nossa equipe, buscamos orientar o que “sua empresa pode fazer/aprender nesta crise”.  Se você ainda não leu, dê uma olhadinha nas sugestões de como podemos enfrentar tudo isto juntos.

Em outro post, que também deve ser relembrado pela adequação ao momento em que vivemos, alguns colegas elaboraram um artigo que trata de organizações antifrágeis. De acordo com o artigo, “a antifragilidade não se resume à resiliência ou à robustez. O resiliente resiste a impactos e permanece o mesmo, o antifrágil fica melhor”.
Lá você vai identificar (ou relembrar) que “algumas coisas se beneficiam dos impactos, elas prosperam e crescem quando são expostas à volatilidade, ao acaso, à desordem e aos agentes estressores, e apreciam a aventura, o risco e a incerteza”.

ALÉM DA ATIVIDADE PROFISSIONAL

Mas não se trata apenas de como resolvermos questões profissionais. Trata-se de como resolvermos a questão essencial da vida em sociedade: a convivência física e troca contínua de experiências.
Em tempos de isolamento, passamos a dar valor para coisas que outrora dávamos pouca importância ou, muitas vezes, sequer tomávamos conhecimento: circular tranquilamente pelas ruas, dar um cumprimento efusivo nos amigos, ter a condição de ir até a empresa para trabalhar com os colegas, visitar os pais/avós, ir à igreja, praticar um esporte coletivo, frequentar a escola, curtir um happy hour com a galera, matear, passear de mãos dadas pelo parque ou pelo shopping center, …
Não bastasse a vasta lista de atividades que nos foram ceifadas, o medo da incerteza do que está por vir e as dúvidas relacionadas à quando e como faremos para retomar nossa vida normal são fantasmas que passaram a “viver” em nosso meio.
Na semana que passou, li um texto do médico Walter Swain Canôas. No texto, ele citou o filósofo Kant, quando disse “que acabaríamos solidários enquanto humanidade ao cabo da ocupação total do planeta, nem tanto pela solidariedade e amor, mas pela necessidade comum”. Esta visão kantiana nunca esteve tão presente quanto agora – mesmo que ainda não tenhamos ocupado todo o planeta (mas temos a sensação de que o COVID-19 o fez).
Está mais do que na hora de entendermos que a situação é real e inevitável.
Enquanto algumas pessoas gastam seu tempo lamentando suas frustrações (como se fossem únicas), outros tomam consciência desta situação e buscam colher o aprendizado desta adversidade – o que as leva a aceitar o inevitável e, principalmente, agir.

MAS UNIDOS

Que tal nos concentrarmos na “metade cheia do copo” e pararmos de nos lamentar pela “metade vazia”?
Basta uma pequena pesquisa no Google que rapidamente encontramos, em meio às notícias do caos, uma imensidão de relatos de pessoas que entenderam esta situação como inevitável e passaram a agir. Transcrevo a seguir alguns poucos exemplos dos diversos que encontrei.


“Combate ao coronavírus estimula solidariedade e união no Brasil e no mundo”, “Em tempos de coronavírus, cresce a solidariedade entre paulistanos”, “Solidariedade vira aliada no combate ao coronavírus”, “Solidariedade une moradores na zona sul”, “Pandemia de Covid-19 desperta a solidariedade nas empresas em todo o país”, “Vaquinha para comprar respirador arrecada mais de R$ 450 mil em menos de 24 horas” são apenas algumas das diversas manchetes que nos conduzem a esta onda de solidariedade.

Um exemplo é a rede de apoio entre vizinhos para ir ao mercado ou farmácia no lugar de pessoas do grupo de risco da Covid-19, como os idosos. Outro exemplo de gentileza é a corrente do bem que muitas pessoas estão disseminando em prédios e condomínios das cidades mais afetadas pela doença. Moradores deixaram recados no elevador ou no hall de entrada para oferecer fazer compras no supermercado ou na farmácia a vizinhos de mais idade.


Em São Paulo, uma pesquisadora resolveu criar uma campanha de ‘adoção’ de idosos para aplacar a solidão da quarentena. Ela criou um site em que detalha a ação e dá orientações para acompanhar os idosos. Entre elas, estão: mandar mensagens de manhã, de tarde e de noite, perguntar se está bem, se dormiu; ficar disponível para conversar; e dar orientações sobre como buscar ajuda médica, caso necessário.


Outro vídeo compartilhado nas redes mostra pessoas isoladas na Espanha jogando bingo umas com as outras pela janela — também rindo e se divertindo. “Teve que chegar uma pandemia para unir as pessoas”, comentou um usuário no Twitter. “Quem vai conferir a cartela?”, perguntou outro.
Em Paraisópolis, SP, está sendo organizada também uma “vaquinha” online para angariar doações para a compra de álcool em gel, marmitas e cestas básicas que serão distribuídas aos moradores.


Em algumas regiões, como ocorreu nas cidades da serra gaúcha no final de semana de 21-22/março, a população organizou frentes para angariar valores com o intuito de adquirir respiradores para os hospitais comunitários.
Mesmo cientes de que a crise deve atingir negócios de todos os portes, muitos empresários brasileiros adotam iniciativas de combate à propagação da Covid-19, como a produção e a distribuição de máscaras e álcool em gel, doações e medidas para tentar manter empregos.


Uma fábrica de lingerie de Guaporé (RS), não hesitou em parar a produção de mercadorias de grife para focar na confecção de máscaras, produto essencial para evitar a propagação do novo coronavírus e que está em falta em quase todo o país. As proprietárias estão distribuindo as máscaras para mercados, farmácias e postos de gasolina a fim de garantir a saúde dos funcionários dos comércios que permanecem abertos.


Em meio à pandemia do novo coronavírus, cidades se mobilizaram na internet para homenagear os profissionais da saúde com um “aplaudaço”. Nas redes sociais, circulam registros de várias regiões do mundo e do país.
Para as crianças que estão em casa, sem aulas, tem afeto pela internet. Pros pequenos que estão internados nos hospitais, fazendo tratamento de quimioterapia, o amor vai chegar de uma maneira diferente.

Em um orfanato em Florianópolis, um exemplo de acolhimento. Esta semana, a justiça autorizou que os servidores levassem os menores para as suas casas.


A cliente que pagou o aluguel da livraria em porto alegre não quer aparecer. Mas quando o isolamento ficar para trás, a generosidade dela certamente vai ser carinhosamente recompensada com um grande e afetuoso abraço.

 

Por mais difícil que possa parecer, não é hora de entregarmos os pontos. Podemos e vamos passar por mais esta. Basta acreditar, reinventar-se e continuar andando.
Veremos que enquanto o melhor lugar do mundo continuará sendo dentro de um abraço o melhor contexto deste abraço é a possibilidade de convivermos em sociedade – quiçá mais solidária a partir deste duro aprendizado.
No final, no melhor lugar do mundo, veremos que saímos fortalecidos.

Artigo escrito por Alceu Viegas Pires Machado, Diretor da Otimiza Consultoria.