A diferença entre ver e enxergar

a imagem mostra os pés de alguém que está em um lugar muito alto, provavelmente uma montanha, e essa pessoa está vislumbrando o horizonte.

Embora essas duas palavras sejam sinônimas e signifiquem a mesma coisa se olharmos no dicionário, tive o prazer de descobrir que existe muita diferença ao que cada uma representa de verdade na vida de alguém.

Provavelmente a pessoa que deveria ver este texto precisará de ajuda de alguém para conseguir ler estas palavras. Mesmo assim, ao ouvir, espero que ele compreenda o quão longe ele pode chegar graças ao poder que ele possui de fazer as pessoas enxergarem além de seu próprio mundinho. Foi isso que ele fez comigo: me fez enxergar o quanto eu era cega mesmo podendo ver.

Justamente no dia em que o Google homenageou o 90º aniversário de Maya Angelou, escritora e poetisa americana ativista dos direitos humanos, eu conheci o Giovani Pereira. Assim como Maya, que enxergava as pessoas além do que normalmente costumamos ver, Giovani me fez enxergar e soube ser um arco íris na minha nuvem cinza.

Esse garoto viu pouco da vida, das pessoas e do mundo mas enxergou muito mais do que qualquer pessoa que vê.  Ele enxergou um universo que é real, é extremamente difícil e onde convivemos diariamente. Um universo que qualquer pessoa poderia ter enxergado, mas ninguém viu.

Recentemente a humanidade perdeu uma pessoa que enxergava assim como Giovani enxerga. Stephen Hawking tinha muito menos condições de enxergar além, se comparado à grande maioria das pessoas no mundo, mas justamente ele, enxergou tão longe que expandiu a visão de toda a população que habita o nosso planeta.

Parece mesmo que o “Universo conspira” pois recentemente tive contato uma pessoa (Flávia Gamonar) que dizia que “devemos ser ponte”, conectar coisas e pessoas, e essa frase guardei comigo e faz muito sentido agora que entendi o que devo conectar. Na semana passada, em uma aula (com o Rafael Terra), aprendi o quanto Social Media pode “tocar” e conectar o público certo a cada tipo de negócio, por mais exótico que ele seja, e que sempre há um nicho esperando para ser bem trabalhado.

Em meio a minha busca por “Aprender a ser protagonista”, participo de um curso que está sendo disponibilizado gratuitamente pela Bel Pesce, escritora de a Menina do Vale, e ela tem uma sensibilidade tremenda de impulsionar pessoas a acreditarem em si mesmas, não terem medo de errar e por isso estou arriscando por aqui, neste instante.

Você sabia que existe uma lei que ampara os direitos dos deficientes visuais em ter “acessibilidade à informação e comunicação”? Eu não sabia, e justamente esse é o tema do trabalho de conclusão de curso do Giovani, formando do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Universidade de Caxias do Sul. Ele poderia ser somente mais um, dentre as centenas de outros alunos que se formam anualmente ou semestralmente em cursos dessa natureza. Poderia, mas definitivamente não é!

Conheci o Giovani em uma reunião do GT (Grupo de Trabalho sobre Responsabilidade Social) realizado pelo Trino Polo – Polo de TI da Serra Gaúcha. Ele chegou até nós através do INAV e busca apoio do GT para disseminar práticas de acessibilidade no desenvolvimento de sites e sistemas ERP. O trabalho dele tem por base a Lei 13146/15 que é destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. O Artigo 3º desta mesma lei prevê em meio a muitos outros direitos, garantir a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.

O Giovani compartilhou conosco o quanto cuidados simples na hora de programar um sistema, ou desenvolver um site podem garantir que essas pessoas que não veem possam navegar na internet assim como todo o resto da população pode navegar. O próprio Google já ranqueia e posiciona um site utilizando como base a semântica com que ele foi desenvolvido, e é justamente essa semântica que facilita muito a vida de quem utiliza os leitores de tela NVDA (NonVisual Desktop Access) para acessar programas e navegar na internet. Pelo que eu soube, esse cuidado não custa mais caro e nem é mais difícil do que o método comum, só requer “o querer” de quem está programando. Uma simples tag de legenda descritiva em uma foto por exemplo, já consegue transmitir à quem não vê a imagem o que ela está comunicando.

Segundo dados do IBGE de 2010, no Brasil, das mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual
• 528.624 pessoas são incapazes de ver (cegos);
• 6.056.654 pessoas possuem baixa visão ou visão subnormal (grande e permanente dificuldade de enxergar);

Termo curioso esse “baixa visão” visto que é representado pelas pessoas que não são cegas mas que precisam de recursos diferenciados para ver. Recursos como alto contraste, ou fonte maior são alguns diferenciais necessários para que tenham uma visão nítida e de qualidade. É bem mais difícil reconhecer que alguém tem baixa visão, isso porque normalmente eles não usam bengalas e cada caso é diferente do outro. Cada um deles tem necessidades bem individuais e específicas e é isso que torna a vida destas pessoas tão difícil.

Segundo dados do World Report on Disability 2010 e do Vision 2020, a cada 5 segundos, 1 pessoa se torna cega no mundo. Além disso, do total de casos de cegueira, 90% ocorrem nos países emergentes e subdesenvolvidos. Estima-se que em 2020 existirão no mundo 75 milhões de pessoas cegas e mais de 225 milhões de portadores de baixa visão. Sendo que 90% dessas pessoas são habitantes dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (Brasil). E outro dado informativo super importante: segundo a OMS, 80% das deficiências visuais podem ser evitadas ou curadas se diagnosticadas e tratadas a tempo.

E como conectar isso tudo? Graças ao Giovani, menino que não vê mas enxerga longe, estou tentando praticar o “ser ponte” e divulgar através destas pessoas que mobilizam milhares de seguidores para que levem o mais longe possível essa iniciativa, fico na torcida para que ela chegue às pessoas certas no momento certo, possibilitando que mais gente possa enxergar esse mundo todo que espera para ser visto.

Então se você programa, desenvolve ou conhece quem faz isso, compartilhe esse material e ajude a ampliar esse horizonte. Eu já contei essa história para todas as pessoas que encontrei, mas é um trabalho de formiguinha, me ajude a contar essa história para mais pessoas.

Obrigada Giovani por abrir os nossos olhos, e mesmo que você não saiba como é o azul do mar e também jamais tenha visto a imensidão do céu, tenho a convicção de que enxergas um infinito muito além do que nós sequer, podemos imaginar.

Agradeço também a Otimiza Consultoria, lugar que me permite explorar o que tenho de melhor, que me coloca em contato com pessoas incríveis e que me ensinam diariamente a ser alguém que vai lá e faz. Concordo com meu colega Junes Monteiro, em achar que essa história valia a pena ser escrita, e o agradeço por me fazer enxergar isso também.

Fontes:
http://g1.globo.com/pa/para/especial-publicitario/associacao-paraense-de-oftalmologia/noticia/2016/04/cegueira-saude-da-sua-visao-pode-estar-em-risco-.html

Estatísticas da deficiência visual

Por Ana Maria Bortolon (Otimiza Consultoria)
Integrante do GT Responsabilidade Social do Trino Polo