
Um voo tranquilo e pontual. Atravessamos o Atlântico em um pouco mais de 11 horas sob um céu limpo. Pouca, quase nenhuma turbulência, apenas nas imediações da ilha da Madeira. Cruzamos a noite e o dia amanhecia sobre a cidade. Abaixo de nós uma capital efervescente. Pela escotilha, era possível contemplar quilômetros de veículos em movimento, faróis baixos riscando as Autobahns e pistas paralelas. Um cenário cotidiano para aquele horário: milhares de profissionais a caminho do trabalho, na cosmopolita Frankfurt.
O céu amanhece entre névoa e claridade, comum para o outono, quando o sol parece hesitar antes de romper o horizonte. A aproximação com o aeroporto segue estável, ainda que exija atenção redobrada. O tráfego aéreo é intenso, aeronaves se cruzam em diferentes altitudes, subindo e descendo em suas rotas.
No painel, o mapa da pista cintila atrás do manche. Flaps abertos aumentam a sustentação enquanto a aeronave desacelera. Ainda não é o momento de abaixar o trem de pouso. Volto o olhar para o relógio: 5 horas e 17 minutos. Potência reduzida, luzes de prontidão acesas, todos os sistemas em modo de aproximação final.
Já podia antecipar o som das rodas tocando a pista, tamanha a expectativa, ao terminar mais uma viagem transatlântica. Meu papel como copiloto é decisivo agora. Total atenção aos movimentos dentro da cabine.
Comandante faz a chamada para a torre: “Lufthansa eight-three-two, request landing clearance.”
Silêncio…
Uma nova tentativa, frequência ajustada, Nada. Nenhuma resposta da torre.
A cabine permanece iluminada, o painel em perfeita ordem. Os indicadores seguem firmes e as leituras estáveis. Mas a falta de retorno pelo rádio provoca um puxão em meu peito, uma sensação impossível de se traduzir em palavras.
O comandante desvia o olhar dos instrumentos e me encara por um breve instante, não está pedindo ajuda, apenas confirma sua serenidade. É o olhar de quem sabe que o verdadeiro comando começa quando o imprevisto aparece.
Dados, informações, comunicação, controle e domínio dos instrumentos, em quaisquer circunstâncias, são vitais para a boa conduta de um profissional.
Logicamente, o drama vivido pelos personagens da narrativa que acabamos de ilustrar é sui generis. Afinal, não é todo posto de trabalho que convive com a responsabilidade de conduzir centenas de pessoas, em que um erro, seja do aparelho, da tecnologia, do humano ou da combinação entre eles, pode ser fatal.
Ainda assim, a lógica do comando é a mesma.
O cockpit de um piloto, o painel de uma CNC, o controlador de temperatura do bico de uma injetora plástica, o console de uma fresa, o terminal remoto de um corte a laser ou uma estação de trabalho no escritório, todos são dependentes de um ecossistema que precisa estar disponível no instante exato, onde cada variável comunica-se com as demais para manter o ritmo e a precisão do todo.
Não estamos falando aqui de relatórios analíticos gerados a posteriori, mas de fatos acontecendo em tempo real: sinais, comandos e lead times que precisam ser interpretados no momento certo, por pessoas que compreendem o sistema e se tornam, elas próprias, parte dele.
É nesse cruzamento entre o humano e o fato, entre a percepção e os instrumentos, orientados pela estratégia e alimentados pelos dados, que se legitima a verdadeira inteligência operacional. E é também aí que se justifica o papel de um gestor, da liderança e das definições que nascem nas salas de reuniões, dando sentido, direção e propósito ao que nem a máquina nem o homem, sozinhos, são capazes de compreender.
Na edição de julho, trouxemos à reflexão um artigo sobre a digitalização impulsionada por inteligência artificial, automação, plataformas e dados em tempo real como um novo terreno a ser explorado, muito além das fronteiras do que conhecemos.
Esse movimento marca um ponto de inflexão no modo como as empresas pensam e operam seus sistemas, conduzindo-nos a novos patamares, onde a dependência quase absoluta dos departamentos de TI, antes o único canal entre a necessidade e a solução, começa a se dissolver diante da chegada das plataformas low-code e no-code e de uma nova geração de sistemas capazes de agir de forma autônoma: a chamada inteligência agêntica. .
Agora, são os próprios gestores, aqueles que conhecem os fatos, o ritmo, as exceções e as urgências do trabalho, que passam a configurar os fluxos, desenhar regras e ajustar o que antes dependia de longas filas de desenvolvimento. Essa nova autonomia aproxima, como nunca antes, a estratégia da operação. O pensamento da execução.
Mais do que uma transformação tecnológica, trata-se de uma mudança de eixo: o conhecimento prático volta a ocupar o centro do sistema. A tecnologia deixa de ser um território restrito a especialistas e torna-se um meio de expressão para quem faz o negócio acontecer.
E é justamente aí que reside o poder humano na era da inteligência agêntica. O valor não está apenas em criar sistemas mais rápidos, mas em traduzir a realidade com precisão. Integrar o raciocínio humano, sensível e contextual, à lógica objetiva das máquinas. Uma convergência que reduz distâncias, elimina ruídos e devolve às organizações o que sempre foi essencial: a capacidade de agir com inteligência, no exato momento em que a realidade acontece.
Estudo de Caso Real
OTMSuite: Plataforma Low-Code na Otimização da Cadeia de Suprimentos na Interpump
A Interpump Hydraulics do Brasil, parte do Interpump Group, é referência global em soluções hidráulicas. Com o avanço da produção e o aumento expressivo do faturamento, a empresa passou a enfrentar o desafio típico das organizações em crescimento: sincronizar o ritmo comercial e produtivo sem comprometer a eficiência da cadeia de suprimentos.
O objetivo estratégico era integrar áreas críticas CRM, PCP, SCM, Gestão Financeira, Compras e Fornecedores em torno de metodologias avançadas como Sales and Operations Planning (S&OP), Demand Forecasting, Just-in-Time (JIT) e Material Requirements Planning (MRP). Em outras palavras, alinhar planejamento e execução em tempo real.
O Desafio: Desalinhamento e Inflexibilidade
A ausência de integração sistêmica entre áreas e a falta de um processo estruturado de previsão e abastecimento impactavam diretamente nos resultados.
Desalinhamento de estoques: a baixa acuracidade nas previsões gerava excesso de materiais em alguns pontos e escassez em outros, imobilizando capital de giro e comprometendo o nível de serviço.
Efeito cascata: o desequilíbrio produzia o conhecido “efeito chicote” na cadeia de suprimentos — aumento de custos logísticos, prazos de entrega e rupturas no fluxo produtivo.
Impacto na experiência do cliente: o índice de atendimento de pedidos (OFR) ficava aquém do desejado, comprometendo a confiabilidade operacional e o crescimento sustentável.
Em síntese: a empresa precisava de previsibilidade sem rigidez, integração sem complexidade, e inteligência sem dependência total da TI.
A Solução: ODM-S&OP na Plataforma OTMSuite
Para enfrentar o desafio, a Interpump contou com a consultoria da Otimiza, que propôs o desenvolvimento de uma aplicação sob medida o ODM-S&OP, criado integralmente na plataforma low-code OTMSuite.
Com integração direta ao ERP e recursos de Monitoramento de Atividades de Negócio (BAM), a OTMSuite tornou-se a base ideal para a solução, que se concentrou em três pilares:
- Padronização do processo: o ODM-S&OP unificou o planejamento de vendas e operações em todas as divisões da Interpump Brasil (Força, Controle, Guincho, Redutor e Água).
- Planejamento integrado: a aplicação coleta dados essenciais vendas, produção e estoques diretamente do ERP, gera previsões baseadas em histórico e feedback dos clientes, e ajusta automaticamente o fornecimento de materiais, mão de obra e capacidade produtiva.
- Gestão em tempo real: o desempenho passa a ser monitorado continuamente, garantindo que os produtos certos sejam produzidos no momento exato e com a quantidade ideal.
A OTMSuite demonstrou seu valor como plataforma de agilidade tática, capaz de criar rapidamente uma aplicação complexa que atua como camada de inteligência e integração sobre o ERP existente, sem necessidade de substituição do sistema principal.
Os Resultados: Valor Estratégico e Financeiro
Em apenas doze meses, a Interpump obteve ganhos expressivos, estratégicos e mensuráveis:
| INDICADOR | ANTES | APÓS 12 MESES | GANHO ESTRATÉGICO |
| Redução de estoques | – | 14% | Otimização de R$ 5 milhões em capital de giro. |
| Aumento de faturamento | – | 9% | Crescimento de R$ 10 milhões em receita. |
| Atendimento no prazo (OFR) | 92% | 95% | Melhoria na Experiência do Cliente (CX) e maior confiabilidade. |
Esses números representam mais do que eficiência operacional, revelam maturidade digital e convergência entre inteligência humana e tecnológica.
Lições e perspectiva
Mais do que implementar uma nova ferramenta, a Interpump reconfigurou sua forma de pensar o planejamento.
Gestores e equipes de operação passaram a participar ativamente do desenho do sistema, eliminando barreiras entre tecnologia e gestão.
A OTMSuite mostrou-se, assim, um habilitador de inovação tática: um ambiente em que profissionais que conhecem o processo criam as soluções que o aprimoram.
O resultado é uma empresa mais ágil, integrada e consciente, capaz de transformar dados em decisões, decisões em resultados e resultados em valor.
No fim, toda tecnologia é apenas instrumento.
O que garante um pouso seguro na cabine de uma aeronave ou na empresa é a lucidez de quem conduz.
A automação amplia o alcance, mas é o humano que define as condições.
Fontes
Metodologia proprietária da Otimiza Consultoria.
Experiências e vivências práticas em diferentes organizações.
Referências diversas da literatura de gestão empresarial.“Relato baseado em fatos reais. O(s) nome(s) mencionado(s) é (são) fictício(s), utilizado(s) com o propósito de preservar a identidade do(s) envolvido(s) e suas organizações.
