Na edição anterior, trouxemos o relato de um jovem que havia sido recentemente contratado. A narrativa mostra a sua força de liderança, e também a angústia ao se deparar com os hábitos arraigados de Maiquel, seu líder de setor.

Suas responsabilidades eram transversais, necessitando alinhar a entrada e saída de materiais no ritmo necessário para atender a agenda comercial. Sabia da importância de suas novas funções, mas não contava com a rigidez da realidade imposta.

A narrativa foi inspirada na reflexão de Simon Sinek, quando diz que “a realização não é um privilégio, e sim um direito”.

No caso de nosso personagem, além dos desafios naturais exigidos pela agenda comercial da organização, havia ainda a barreira imposta por seu supervisor. Essa dificuldade não apenas trazia desafios operacionais, mas, a longo prazo, poderia gerar estresse e até a perda da motivação de um profissional cheio de talento, determinação e compromisso.

Simon Sinek está certo ao destacar as condições de trabalho como fator essencial. Sentir-se realizado é um direito de todos, e essa busca, embora individual, encontra raízes profundas na cultura organizacional. É nesse ponto de encontro entre indivíduo e empresa que surgem ambientes realmente propícios à prosperidade.

Uma opinião que encontra ressonância com a de Simon Sinek é a de Charles Handy. Em um artigo riquíssimo, presente no livro “O Líder do Futuro”, publicado pela Peter F. Drucker Foundation, Handy nos convida a refletir sobre o papel das organizações na criação de ambientes onde indivíduos possam florescer, conciliando suas realizações pessoais com os objetivos coletivos.

Segundo Charles Handy, “toda autoridade deve ser conquistada antes de exercida”. Assim como no ambiente político, onde líderes são eleitos pelos cidadãos, com exceção das ditaduras, em que o poder deriva da força, também nas organizações a legitimidade da liderança não pode se apoiar apenas no cargo.

Handy observa que, nas organizações do tipo “máquina”, o poder se concentra em um único posto hierárquico. Já nas organizações de caráter mais político, o poder é concedido pelas pessoas sobre as quais será exercido. Nesse contexto, títulos e cargos têm pouco peso até que os líderes provem, na prática, sua competência e capacidade de gerar confiança.

Como em nossa narrativa, o personagem vivia em um conflito angustiante. De um lado, o diretor que contava com ele para atingir metas do calendário comercial. De outro, o supervisor que não lhe concedia espaço necessário para conduzir seu papel com naturalidade. E ele, no centro, tentando traçar uma rota capaz de perfurar esses obstáculos e cumprir sua missão.

Hoje, encontramos organizações descentralizadas, com cargos híbridos, onde pessoas atuam em diferentes escritórios e locais, carregam hábitos distintos, convivem com diferenças geracionais, terceirização e, mais recentemente, com a inteligência artificial interagindo e influenciando decisões e funções.

A liderança, portanto, não é fixa. Ela flui de acordo com a habilidade e as condições necessárias para o desafio que está sendo enfrentado. Em um jogo de futebol, por exemplo, temos o técnico, que exerce sua liderança de topo. Em campo, o capitão do time, que, além de jogar, exerce autoridade ao lado de seus colegas. Debaixo do travessão, o goleiro precisa ser, ao mesmo tempo, livre e líder: livre para cumprir sua função com êxito e líder para decidir as melhores condições de defesa, assumindo, inclusive, riscos.

Organizações não devem ser projetadas para eliminar completamente os erros. Essa condição torna-se pesada em termos de controle, além de inibidora e nada criativa. A ausência de erros também revela a ausência de experiências. E essa é a rota mais segura para o fracasso, pois as experiências são a chave para descobertas inusitadas e preciosas para o grupo.

Ousamos afirmar que uma empresa verdadeiramente líder em seu segmento é aquela que dá espaço para que a liderança esteja presente e permeada em todos os setores e departamentos, dando voz aos colaboradores, independentemente do cargo ou nível hierárquico.

Quando a causa é grande, dela nascem grandes líderes.
Quando as pessoas dão o melhor de si, grandes causas também se originam.

Que não seja a falta de uma boa causa a nos manter na zona de conforto.
Os novos tempos são exigentes… E a nossa maior causa é estar à altura deles. Vamos juntos.

Fontes
Simon Sinek, Encontre seu Porquê (Editora Sextante).

Charles Handy, artigo no livro O Líder do Futuro – Visões, Estratégias e Práticas para uma Nova Era (Peter F. Drucker Foundation, Editora Futura).

Metodologia proprietária da Otimiza Consultoria.

Experiências e vivências práticas em diferentes organizações.

Imagem ilustrativa deste artigo criada com inteligência artificial.

Outras referências da literatura de gestão empresarial.