O que aconteceria se eu pedisse para descer na próxima parada?

Ainda faltam alguns quilômetros para chegarmos à empresa. 

Francamente, se não fosse o mau tempo, faria. Juro que faria.

Os meus dias estão se tornando cada vez mais difíceis. Como é possível alguém tão difícil de lidar? As coisas são ditas, demonstradas, explicadas e, mesmo assim, não encontram os ouvidos necessários para que fluam como deveriam.

Será que anos de experiência serviram apenas para cristalizar uma forma única de lidar com os compromissos? Ou será que a liberdade de experimentar e fazer diferente já não lhe é mais possível?

A paisagem corre pela lateral do ônibus, como em todas as manhãs. O caminho é o mesmo, as paradas são as mesmas, quase sempre no mesmo horário. Mas para um observador atento, nunca é igual: um acontecimento novo no trânsito, um comentário diferente de um colega ou a própria luz do dia que muda constantemente.

Existem inúmeras rotas para chegar até a fábrica. Este caminho que fazemos todos os dias é apenas o itinerário estabelecido pela empresa de transportes. Tenho certeza de que, se surgisse uma rua nova, pavimentada, que encurtasse o percurso, alguém tomaria a decisão de alterar a rota. Não é possível que mudar seja tão difícil. Ainda mais quando todos já reconhecem que há alternativas. 

Maiquel era um gerente ambicioso. Controlador ao extremo, protegia sua célula de trabalho como um soldado que vigia a guarita 24 horas, sem descanso. Nada entra, nada sai. Seu foco é defender o território, mesmo que isso custe todas as consequências a partir dali. 

Só que essa postura estava comprometendo o desempenho da empresa ou, pelo menos, impactando diretamente a minha produtividade. Ele sabe que a minha responsabilidade é transversal. Preciso garantir o alinhamento comercial para que a empresa cumpra com suas promessas de entrega.

Minha relação com ele estava se desgastando. Meu propósito naquela empresa era claro, mas não conseguia, por mais que tentasse, estabelecer a fluidez necessária para atingir os resultados que sabia serem possíveis, desde que houvesse a flexibilidade necessária para que a cadência de entrada e saída fosse diferente da estabelecida por Maiquel.

Mas ele era o líder no setor. Eu, apenas um colaborador que recém havia passado no período de experiência. Ainda assim, conhecia bem as recomendações do diretor quanto às minhas funções. Não poderia, porém, romper simplesmente com hábitos arraigados por tanto tempo e gerenciados por Maiquel. Seria necessário mais tempo, paciência e habilidade para realmente poder contribuir com aquela situação.

Quando o itinerário não muda

“A realização é um direito, não um privilégio”.

Simon Sinek é preciso quando afirma que todos deveriam se sentir realizados com o trabalho: acordar empolgados para começar o dia, sentir-se seguros durante a jornada e voltar para casa com a sensação de que contribuíram para algo maior. Por mais subjetivas que essas condições possam parecer, elas são responsabilidade da liderança. Cabe aos líderes criar ambientes onde os colaboradores realmente se sintam parte de um propósito coletivo. 

Essa não é uma reflexão distante da realidade das organizações. Muitas vezes, contratam-se pessoas apenas para exercer funções específicas. Porém, muitas vezes, quem contrata e quem treina desconhece, na prática, a complexidade dos papéis e dos meandros que cada função exige.

Nosso amigo recém-contratado ou mesmo um colaborador antigo não tem apenas o direito de se sentir realizado e feliz, mas também o dever de buscar esse lugar. A realização não depende só da empresa: ela é construída na interação entre expectativas, responsabilidades e escolhas individuais.

Por isso, não podemos cair na armadilha da vitimização. É preciso assumir responsabilidades, negociar com equilíbrio e conquistar as melhores condições para exercer nossas funções da forma mais plena possível. Existe um caminho entre o abandono resignado e a exigência intransigente. Ambos levam à frustração. O ponto de equilíbrio está no exercício consciente de cada parte: líderes que criam contextos saudáveis, e profissionais que assumem seu papel na construção da própria realização.

Organizações saudáveis se constroem quando cada pessoa encontra sentido no que faz, e quando cada líder compreende que o verdadeiro papel não é defender guaritas, mas abrir caminhos. E o desafio é que essa mudança exige tanto a disposição da liderança em escutar quanto a coragem do colaborador em se posicionar. É nesse encontro que ambos se realizam, não como um privilégio, mas como um direito e também um dever compartilhado. 

No fundo, o itinerário sempre pode mudar. Seja o caminho do ônibus que pode encontrar uma rua alternativa, seja no processo de trabalho que poderia ganhar um novo fluxo. E também na cultura que poderia se abrir ao aprendizado.

Como lição, podemos mencionar que o mercado exige empresas ágeis. E agilidade não é apenas um discurso reservado a salas de reuniões, mas sim a capacidade de agir, e não apenas imaginar. 

Fontes

  • Reflexão inspirada na frase “A realização não é um privilégio, e sim um direito”, de Simon Sinek, presente no livro Encontre seu Porquê (Editora Sextante).
  • Metodologia proprietária da Otimiza Consultoria.
  • Experiências e vivências práticas em diferentes organizações.
  • Imagem ilustrativa deste artigo criada com inteligência artificial.
  • Referências diversas da literatura de gestão empresarial.