
“Prever e planejar da forma mais detalhada possível, planejar até a exaustão. Seria esse seu lema?”
Questionado, Amyr Klink, navegador e escritor brasileiro, responde precisamente:
“Durante um período, pois chega um momento em que você tem que dar essa fase por encerrada. Se ficar num perfeccionismo obsessivo, você nunca vai terminar, e aí entra de novo o bom senso. O fato é que a origem dos problemas do projeto está nos detalhes; às vezes eles estão sob o nosso nariz, convivemos com eles e não enxergamos, não lhes damos a devida importância, pensamos tratar-se de algo insignificante, sem valor.
Nossa tendência é acreditar que o fracasso só acontece em razão de grandes acontecimentos, como temperaturas extremas, cataclismos; coisas assim raramente acontecem.”
A resposta de Amyr, embora oriunda do universo da navegação, pode ser aplicada com precisão no mar corporativo. Sobretudo quando falamos de tecnologia e gestão.
Num primeiro momento, planejar à exaustão é necessário. E, implementar um ERP é isso: estruturar processos, prever cenários, desenhar fluxos. O ERP é o coração sistêmico da empresa: conecta setores, cria padrões, reduz riscos. Mas ele também carrega o risco do excesso de macrovisão. Seu foco está em organizar o todo, e nem sempre consegue enxergar o detalhe que desorganiza a prática.
E é justamente nesse aspecto, que Klink nos alerta: os problemas costumam estar nos pontos mais óbvios, nos cantos ignorados da operação. Um campo não preenchido. Um dado mal interpretado. Um processo que precisa de uma exceção. E nenhuma grande plataforma, por si só, consegue prever tudo isso.
O limite do ERP e a necessidade de novas camadas
O ERP tem seu valor inegociável. Mas à medida que o sistema é implementado e as operações se tornam mais complexas, surge um hiato: a ausência de resposta às pequenas dores do dia a dia, aquelas que não aparecem nos relatórios de diretoria, mas que travam o fluxo, criam retrabalho, desmotivam equipes e atrasam entregas.
É aí que a gestão precisa evoluir. Não substituindo o ERP, mas complementando-o com novas camadas tecnológicas. Sistemas mais ágeis, modulares, ajustáveis, que conversem com o ERP, porém desçam ao nível do detalhe, ao contato direto com o que acontece em cada setor, em cada etapa, em cada ponto de atrito.
Estamos falando de plataformas de automação, ferramentas de integração, tecnologias low-code, que permitem criar fluxos personalizados, rápidos e eficazes, não para grandes transformações imediatas, mas para soluções que evitam o acúmulo silencioso de microproblemas.
O ruído do detalhe
A maturidade da gestão está em saber quando parar de ajustar o plano e começar a agir com base no que se vê, se sente e se vive no dia a dia da empresa. Amyr Klink nos lembra: não são os cataclismos que afundam projetos, são os detalhes ignorados.
A nova camada tecnológica da gestão existe para isso: dar forma e resposta ao que o ERP não alcança. Estar atento ao que parece pequeno demais para o sistema, mas grande o suficiente para travar resultados.
Gestão não é apenas planejamento. É escuta, leitura de contexto, adaptação. E hoje, é também arquitetura de soluções tecnológicas que respeitam o macro, sem perder o detalhe.
Fontes:
Metodologia proprietária Otimiza Consultoria;
Vivência nas organizações;
Literatura de gestão empresarial diversas.
Citação retirada do livro “Gestão de Sonhos”, entrevista de Sérgio Almeida com Amyr Klink. Editora Casa da Qualidade, 13ª Edição, 2000.